O dia em que tudo mudou


A minha vida dava um livro, por tantas transformações que tem sofrido. O homem que sou hoje nada tem a ver com os tempos da minha juventude.
Sexualmente falando, fiz-me homem aos 14 anos. Por várias vezes fiz esta afirmação e sei que em muitas delas a minha palavra foi posta em causa, mas repito-a, por ser verdade. Dos 14 aos 21 fui heterossexual! Genuíno! Nunca, durante esses 7 anos, um homem me despertou a atenção.

Passado tanto tempo, se algo posso referir como possiveis sinais do que me viria a acontecer mais tarde, será o facto de nessa fase ter sido sempre fiel à única mulher que namorei e com quem casei. Foram tempos férteis. Era um puto baixinho e franzino, mas fodia como um cavalo (falando português) e tive a sorte de ter uma parceira que sempre me aguentou a pedalada. Teve esse facto algo a ver com a fidelidade que lhe mantive? Pode ser que sim, ou que não...mas reconheço que não é muito normal um jovem, na idade fogosa, ser fiel a uma só mulher. Casar-se, tendo conhecido apenas a intimidade de um corpo. Certo é que a primeira vez que a traí foi com um homem, quando já estávamos casados.

O que aconteceu nesse dia esteve sempre muito além da minha capacidade de interpretação.
Ia eu em viagem. No bar do comboio, reparei que um tipo de meia idade não tirava os olhos de mim. Sendo fumador, fazia sempre as viagens enfiado no bar, por poder fumar nessa carruagem. Passado algum tempo, comecei a questionar o comportamento do gajo. Se não fumava nem bebia, que fazia ali, na minha frente, a olhar-me de alto a baixo, lembro-me de ter pensado.

A certa altura dei conta que o tipo se acariciava e que estava excitado, enquanto me olhava com aquele olhar de predador, que se nesse tempo eu desconhecia e me incomodou, hoje me excita como nenhum outro. Primeiro apeteceu-me bater-lhe, confesso. Mais ainda quando eu próprio me senti excitado com a situação. Lembro-me de um turbilhão de emoções. Um misto de curiosidade, raiva, repúdio, que me invadiram a mente e me fizeram correr dali, sobressaltado. Não tornei a ver o tipo até ao fim da viagem.

Chegado ao destino, saio da estação e entro no primeiro bar que encontro. Deviam ser umas 22 horas. Ia pernoitar em casa de familiares e apresentar-me de manhã no quartel da cidade, para a inspecção militar. De repente diz-me o funcionário que alguém me quer pagar uma bebida. Olhei para o fundo do balcão e vejo o mesmo tipo do comboio, sorrindo-me, com uma postura que na altura eu não conseguia avaliar, mas que hoje reconheço, soltava charme e sensualidade por todos os poros. Estava ali de novo a olhar para mim. Coincidência? Nah...nem um ingénuo como eu acreditou.

Não sei como nem porquê, mas aceitei-lhe a bebida, o que lhe deu liberdade de se sentar ao meu lado e meter conversa. Saímos dali apenas quando o bar fechou, para casa dele. O que passou nessa noite foi algo até hoje incomparável e que obviamente me marcou para o resto da vida. De manhã levou-me ao quartel e passou de tarde a apanhar-me. A estadia que deveria ser de dois dias, demorou uma semana e voltei a casa apenas por me lembrar que tinha muita gente preocupada comigo.

Melhor dizendo, parte de mim voltou, mas não o mesmo que tinha saído uma semana antes. Não era, e nunca mais havia de ser a mesma coisa...

1 comment:

  1. Olá
    vim conhecer o teu blog e esta descrição da tua primeira relação homossexual é ao mesmo tempo muito real e até algo excitante, embora não relate qualquer intimidade...
    Abraço.

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